I. INTRODUÇÃO.
O Novo Testamento considera o ministério de pregação essencial para a vida da igreja. Os motivos são bastante claros: primeiro, através dele a igreja vem a existência, pois juntamente com o trabalho evangelístico dos demais cristãos, pecadores são salvos por meio da pregação de homens vocacionados. Por isso encontramos o Senhor Jesus pregando o evangelho: “E percorria Jesus tôdas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando tôda sorte de doenças e enfermidades”[1], como também estimulando seus discípulos a fazerem o mesmo: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinado-as a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que eu estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos”.[2] Se houve um mandamento que os discípulos trataram de obedecer foi o de pregar a Palavra de Deus mesmo em face das mais duras perseguições: “Mas Pedro e João lhes responderam: julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos”.[3] Os apóstolos tinham consciência do fato de que a igreja vem à existência pela pregação do evangelho: “Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo. Como, porém, invocarão aquele em que não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?”[4]
Em segundo lugar, estes que são salvos nutrem-se espiritualmente mediante a exposição da verdade bíblica. Não são poucas as passagens bíblicas que revelam a saúde da igreja depender da fiel exposição da verdade revelada: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino: prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com tôda a longanimidade e doutrina”.[5] Tem que haver no seio da igreja gente que fala. A comunicação do conteúdo da verdade é o principal meio para a edificação da igreja:
E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para o outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.[6]
John Stott mencionando E. C. Dargan afirma: “A pregação é distintivamente uma instituição cristã”.[7] A igreja não teria chegado até o nosso século se não fosse o ministério de pregação. O cristianismo é um religião doutrinária. Seu sucesso depende da assimilação das suas verdades centrais. E o meio por excelência de comunicação dessas verdades é a pregação das Escrituras Sagradas.
O conceito altíssimo que o ministério de pregação tem nas Escrituras Sagradas tem sido visto ao longo da história da igreja na vida de inúmeros líderes cristãos eminentes. João Crisóstomo, que pregou durante doze anos na Catedral de Antioquia, antes de se tornar Bispo de Constantinopla em 398 d.c. afirmava: “Um único meio e caminho de cura nos tem sido dado... e esse é o ensino da Palavra”.[8] Lutero acreditava que um pregador expondo a Bíblia nada mais era do que Deus falando pela intermediação de um homem: “A boca e a palavra do pregador que escutei não são as suas, mas são a palavra e a pregação do Espírito Santo, que por estes elementos exteriores produzem a fé interiormente e assim me santificam”.[9] Para o mais conhecido pregador batista de todos os tempos, Charles Spurgeon, a igreja não vive sem o púlpito:
Não procuro outra forma de converter pessoas além da simples pregação do evangelho e da abertura dos ouvidos dos homens para ouvi-la. No momento em que a igreja de Deus menosprezar o púlpito, Deus a desprezará. Tem sido através do ministério que o Senhor tem se agradado em reavivar e abençoar suas igrejas.[10]
Calvino não tinha ponto de vista menos exaltado do ministério de pregação:
Singular benefício atesta o Senhor prodigalizar aos homens em suscitando-lhes mestres, onde ordena ao Profeta exclamar ‘formosos serem os pés e bendita a vinda dos que anunciam a paz’ (Is 52.7) e quando aos Apóstolos chama ‘luz do mundo’ e ‘sal da terra’ (Mt 5. 13,14). Nem mais esplendidamente podia ornar-se este ofício do que quando disse: ‘quem vos ouve, a Mim Me ouve, quem vos rejeita, a Mim Me rejeita’.[11]
Os grandes momentos da igreja no passado foram caracterizados pela presença de homens ungidos ocupando o púlpito e expondo a Bíblia com fidelidade. Isto é fato fora de controvérsia. Os períodos de avivamento sempre tiveram a marca de grandes pregadores anunciando a verdade com poder espiritual incomum. Quem ressalta fato tão fácil de ser provado na história da igreja é Martyn Lloyd-Jones: “Não se pode ler a história da igreja, mesmo de forma superficial, sem perceber que a pregação sempre ocupou posição central e predominante na vida da igreja, particularmente no protestantismo”.[12]
Porém, muito a igreja tem sofrido com a pregação dos chamados falsos profetas. No Antigo Testamento uma das principais causas do declínio da vida espiritual do povo de Israel foi a pregação desprovida do conteúdo da verdade. Por isto o povo era admoestado por Deus a não dar ouvido a certos pregadores: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam, e vos enchem de vãs esperanças; fala as visões do seu coração, não o que vem da boca do Senhor”.[13] O mesmíssimo problema teve que ser enfrentado pelos cristãos do período apostólico. Observa-se com clareza que as epístolas em geral foram escritas para tratar dos problemas doutrinários ocasionados pelos falsos mestres. Na carta aos Gálatas vemos o apóstolo Paulo admoestando os Gálatas nos seguintes termos: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho; o qual não é outro, senão que há alguns que vos pertubam e querem perverter o evangelho de Cristo”.[14] Falando sobre o declínio da igreja nos Estados Unidos Richard Lovelace faz um comentário que muito nos ajuda a entender como a igreja pode ser desencaminhada pela pregação oca: “Muitas congregações americanas estiveram efetivamente pagando seus ministros para protegê-las do Deus real”.[15] Todo o estrago produzido pelo liberalismo teológico em centenas de congregações cristãs em tantas cidades do mundo ocidental, é a principal prova da história recente do cristianismo sobre o quanto a pregação infiel pode adoecer a igreja.
Desde os seus primeiros anos de vida a igreja se viu na necessidade de estabelecer regras claras quanto a relação dos crentes com os pregadores da Palavra de Deus. Os motivos relacionam-se a dupla realidade exposta acima. Os benefícios que a igreja pode auferir da pregação da Palavra de Deus são incalculáveis. Por isto sempre foi necessário que se estimulasse os cristãos a não negligenciarem a participação nas reuniões públicas onde a Palavra de Deus é ensinada. Os riscos, contudo, da igreja ser contaminada pelo vírus da falsa pregação são de igual modo evidentes. Sendo assim tem sido fundamental que a igreja seja alertada quanto ao perigo de ser destruída por mensageiros de Satanás.
A Didaquê é um documento profundamente revelador dos problemas iniciais que a igreja enfrentou com o ministério de pregação. Ao mesmo tempo que leva todos os crentes a estimarem os verdadeiros pregadores, apresenta diretrizes para que a comunidade da fé não seja enganada por homens vis que se passam por mensageiros de Deus.
O motivo deste presente trabalho deve-se ao fato da Didaquê ser um documento atual que pode ajudar nossas igrejas a aprenderem lidar com o lado luminoso e sombrio da pregação. Vivemos dias de muita pregação falsa em nossa nação. Certamente uma das principais fraquezas do protestantismo atual reside na aversão dos que se auto intitulam como tais a um cristianismo que seja doutrinário. Observa-se uma grande preocupação em que o culto seja agradável, mas pouca com relação ao preparo do ministro. Nossos crentes conhecem quase nada da sua herança teológica. O que é uma pena, pois quanto a igreja de Cristo foi enriquecida com o advento do protestantismo, em especial na sua versão calvinista
O povo evangélico não sabe diferenciar os pregadores. É capaz de ouvir pessoas que advogam pontos de vista absolutamente diferentes e dizer que estão falando a mesma coisa. E sem sombra de dúvida temos uma igreja com as portas abertas para os mais diferentes tipos de erros doutrinários. Mas, o problema não reside tão somente na falta de discernimento do nosso povo. É necessário também que haja um resgate do valor de um ministério fiel de exposição das Escrituras. Nossas igrejas precisam reconhecer que a presença de um ministro fiel numa igreja local é uma grande expressão do amor e cuidado providencial de Deus
O que me proponho a fazer é mostrar a origem deste documento de considerável valor para a história da igreja, o seu tratamento dado a questão da pregação, os pontos em comum com as diretrizes de outros pais da igreja, sua harmonia com as Escrituras Sagradas, e, por fim, gostaria de aplicar o conteúdo da Didaquê a realidade que nos cerca.
II. A HISTÓRIA E RELEVÂNCIA DA DIDAQUÊ.
1.1. SUA LOCALIZAÇÃO NA HISTÓRIA ECLESIÁSTICA.
A Didaquê faz parte do conjunto de literatura de uma época da história da igreja chamada de período dos Pais Apostólicos. No dicionário Oxford da igreja cristã encontramos a seguinte definição deste período:
Estes são aqueles Pais do tempo imediatamente depois do período do Novo Testamento cujos trabalhos sobreviveram completamente ou em parte. Eles são Clemente de Roma, Inácio, Hermas, Policarpo, e Papias, e os autores da Epístola de Barnabé, a Epístola a Diogneto, 2 Clemente, e a Didaquê.[16]
A era dos Pais Apostólicos é um dos períodos da história do cristanismo onde o peso da tarefa de se edificar a igreja de Cristo foi mais sentido. Foi essa a geração que teve contato final com os que viram o Senhor Jesus pessoalmente e os sucedeu.
O contato com a literatura e história desta época deixa-nos com uma dupla impressão: a primeira, é que apesar da proximidade com os discípulos originais de Cristo esta geração trouxe para dentro da igreja material estranho ao conteúdo da mensagem apostólica. Nota-se uma tendência ao legalismo que não encontramos no Novo Testamento. Parece que não foi fácil para esta geração se abstrair da cultura que a cercava e ficar com a mensagem da graça de Deus que está em Cristo. Isto é tão forte que temos a nítida impressão que os reformadores que viverem aproximadamente 1500 anos depois estiveram mais próximos do espírito do Novo Testamento do que os Pais Apostólicos. Como afirma Roger Olson:
... alguns dos sucessores dos apóstolos introduziram idéias próprias na corrente da teologia da igreja primitiva... esses pais da geração que se seguiu aos apóstolos deram ao evangelho interpretação própria, o que começou a distanciá-lo dos grandes temas da graça e fé tão marcadamente enfatizados por Paulo e outros apóstolos e a aproximá-lo do evangelho de uma “nova lei” de conduta e comportamento agradável a Deus.[17]
Cometeríamos, contudo, uma injustiça se nosso comentário sobre esse período da história da igreja se resumisse apenas às diferenças dos Pais Apostólicos para com os Apóstolos mesmos. Esta geração selou seu testemunho com sangue. E teve que defender a fé contra os ataques sofridos por inimigos declarados e ocultos da fé cristã. Sem dúvida não seríamos o que somos como igreja neste início do século XXI sem os Pais do primeiro e segundo séculos da era cristã. Esses mantiveram intactas verdades que caso tivessem sido negligenciadas ou banalizadas descaracterizariam por completo a fé cristã. Roger Olson não exagera ao dizer:
Os Pais Apostólicos devem ser admirados e louvados pela vigorosa defesa que fizeram da encarnação de Deus em Jesus Cristo contra as negações dos gnósticos. Alguns morreram como mártires nas mãos das autoridades romanas e, portanto, devem ser muito respeitados por confessar sob o risco de morte a crença em Cristo e no evangelho, mesmo sob perseguição. Sem dúvida, sua grande relevância aqui é terem sido os primeiros teólogos do cristianismo.[18]
A Didaquê, sendo assim, é um documento deste período. Escrita em meio às ameaças a fé e inevitáveis crises que a igreja teve que enfrentar. Um documento que nos ajuda a entender um pouco da vida dos cristãos pós-apostólicos e as diretrizes dadas pela liderança da igreja para a solução de problemas sérios que aquela geração de crentes teve que enfrentar.
1.2. AUTORIA, VALOR HISTÓRICO E CONTEÚDO.
O seu nome completo é Didaché tou Kuríou diá ton dódeka apostólon tois éthnesin (ensino do Senhor ao gentios através dos doze apóstolos). O termo grego Didaquê significa doutrina. Sua autoria e data da redação final têm sido objeto de debate entre os estudiosos. Justo Gonzáles admite que sua data de composição é de todo insegura, mencionando o fato de alguns pensarem que foi escrita antes da destruição de Jerusalém no ano 70, enquanto outros opinam que foi escrita no terceiro século.[19] Porém, o próprio Gonzáles crê que a Didaquê foi escrita no final do primeiro século ou princípio do segundo.[20] Frangiotti acredita que sua autoria deve-se a um ministro sagrado de idade avançada, formado na escola de Tiago, o Menor, que teria imigrado para a Síria por ocasião da guerra civil. O documento teria sido colocado na forma presente no máximo até 150, embora pareça provável uma data mais próxima do final do primeiro século.[21] Seu lugar de composição seria alguma pequena comunidade da Síria ou Palestina, distante das correntes centrais do pensamento cristão. O que na opinião de Gonzáles explicaria o porque do documento conter significativas diferenças em relação ao conteúdo da mensagem apostólica.[22]
Um dos fatos que ressaltam a importância da Didaquê na história do cristianismo é a quantidade considerável de menções de passagens suas em escritos da igreja antiga. Foi um documento que sem sombra de dúvida teve ampla circulação no primórdios do cristianismo, sendo lido nos cultos cristãos e tido por um homem como Clemente de Alexandria como documento inspirado.[23] Mas, pela providência de Deus este documento falto da beleza e de harmonia em seu todo com o Novo Testamento, não entrou no Cânon sagrado. Eusébio de Cesarea, o mais antigo historiador da igreja, revela que a Didaquê não gozava da autoridade ampla dos escritos do Novo Testamento: “Entre os espúrios sejam listados: o escrito dos Atos de Paulo, o chamado, Pastor e o Apocalipse de Pedro, e além destes, a que se diz Carta de Barnabé e a obra chamada Ensinamento dos Apóstolos (Didaquê)...”.[24] O que não desfaz seu valor histórico e importância de seus ensinamentos para a vida da igreja de todos os séculos.
Na opinião de Justo Gonzáles seu descobrimento no ano de 1873 pelo arcebispo Filoteo Briennios na cidade de Constantinopla, está entre “os descobrimentos literários mais importantes dos tempos modernos”.[25] Para J. Quasten a Didaquê vem a ser: “O documento mais importante do período sub-apostólico e a mais antiga fonte de lei eclesiástica que possuímos... Enriqueceu e aprofundou de modo extraordinário o nosso conhecimento dos primórdios da igreja”.[26]
Seu conteúdo pode ser dividido da seguinte forma: em primeiro lugar, os dois caminhos (1-6): código de moralidade cristã, apresentando as diferentes virtudes e vícios que constituem, respectivamente, o caminho da vida e o caminho da morte. Em segundo lugar, uma espécie de diretrizes gerais para a vida da igreja (7-16): que nada mais são do que regras que visam orientar a igreja em questões como, batismo, jejum, eucaristia, missionários itinerantes, ministros locais entre outras coisas mais. Maxwell Staniforth ressalta a importância dessa secção da Didaquê: “São esses antigos regulamentos que conferem a Didaquê um interesse e importância singulares, pois refletem a vida de uma primitiva comunidade cristã na Síria (ou no Egito) no final do primeiro século”.[27]
III. AS DIRETRIZES DA DIDAQUÊ PARA A CORRETA RELAÇÃO ENTRE OS PREGADORES E A IGREJA.
3.1. OS DEVERES DOS PREGADORES
3.1.1. OS PREGADORES DEVEM SER ORTODOXOS (11:1-3).
Se alguém vier até vocês ensinando tudo o que foi dito antes, deve ser acolhido. Mas se aquele que ensina for perverso e expuser outra doutrina para destruir, não lhe dêem atenção. Contudo, se ele ensina para estabelecer a justiça e o conhecimento do Senhor, vocês devem acolhê-lo como se fosse o Senhor.[28]
Algumas coisas ficam evidentes nesta recomendação feita pela Didaquê. Em primeiro lugar, o critério principal para a acolhida de um pregador numa igreja local deveria ser sua ortodoxia. Antes de se preocupar com a forma da pregação os cristãos dos dias pós-apostólicos deveriam se preocupar com o conteúdo do que era dito. Isto porque a igreja já naqueles dias era assolada pelo trabalho de falsos mestres. Em segundo lugar, fica evidente o caráter deletério das falsas doutrinas. A igreja não deve dar atenção aos falsos mestres porque estes destróem a igreja na medida em que proclamam o erro. Em terceiro lugar, o conteúdo pricipal dessa mensagem haveria de ser a justiça e o conhecimento do Senhor.
A preocupação supra da Didaquê é encontrada em Inácio de Antioquia na sua carta aos Efésios, que em termos bastante enérgicos, faz um alerta à igreja quanto ao trabalho dos falsos mestres:
De fato, existem algumas pessoas que dolosamente costumam levar o Nome, mas agem de modo diferente e indigno de Deus; é preciso que eviteis essas pessoas como se fossem feras selvagens. Com efeito, são cães raivosos que mordem sorrateiramente. Atentos a eles, pois suas mordidas são difíceis de curar.[29]
E ele elogia os Efésios por não terem dado ouvidos a certos falsos pregadores: “Eu soube que por aí passaram alguns, levando mau ensinamento. Vós, porém, não os deixastes semear em vosso meio, tapando os ouvidos para não receber o que eles semeiam”.[30]
Podemos dizer que esta forma enérgica de falar sobre os perigos da mensagem dos falsos mestres encontramos no Novo Testamento. Para mencionar apenas duas, entre tantas passagens bíblicas, em Judas um alerta claro é feito à igreja:
Pois, certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.[31]
Na sua primeira epístola à Timóteo no capítulo quatro versículos um e dois, Paulo chama atenção de Timóteo para uma profecia que tem relação direta com o problema do falso ensino: “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensino de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras, e que têm cauterizada a própria consciência...”[32]
Os reformadores não ficaram atrás na forma de se reportar aos falsos mestres e na maneira igualmente firme de denunciá-los. Calvino além de demonstrar repulsa pela espécie de pregação onde a fluência é grande, mas o conteúdo escasso: “O que se requer não é meramente uma língua volúvel, pois vemos muitos cuja fluência fácil não contém nada que possa edificar”[33], ensinava aos pastores reformados a necessidade desses terem uma dupla voz: “Um pastor precisa de duas vozes, uma para reunir o rebanho e outra para afugentar os lobos e os ladrões”.[34]
Torna-se evidente para qualquer estudioso da história do cristianismo e das Escrituras Sagradas que a igreja sempre foi estimulada pelos seus melhores ministros a nunca manter uma relação condescendente com os falsos mestres. Para tais homens de Deus, era uma negação do amor em nome do mesmo negociar o conteúdo da verdade. Amor que tolera a presença de um falso mestre permite que aconteça algo que para o verdadeiro amor é intolerável que é permitir o ser humano ser privado da verdade. Não encontramos no NovoTestamento, Pais Apostólicos e reformadores a idéia de expor a comunidade cristã ao ensino do falsos mestres na perspectiva de “ouvir todas as coisas e reter o que é bom”. Eles sabiam que a igreja sempre tem pequeninos que não saberão discernir as coisas. E mais, nunca honravam um falso mestre.
3.1.2. OS PREGADORES DEVEM SER DESPROVIDOS DE INTUITOS GANANCIOSOS (11:5-6, 9, 12).
Ele não deverá ficar mais que um dia ou, ser for necessário, mais outro. Se ficar por três dias, é um falso profeta. Ao partir, o apóstolo não deve levar nada, a não ser o pão necessário até o lugar em que for parar. Se pedir dinheiro, é um falso profeta... Todo profeta que sob, inspiração, manda preparar a mesa, não deve comer dela. Caso contrário, trata-se de um falso profeta... Se alguém disser sob inspiração. ‘Dê-me dinheiro’ ou qualquer outra coisa, não o escutem. Contudo, se ele pedir para dar a outros necessitados, então ninguém o julgue”.[35]
O pregador deve deixar patente para a igreja que seu propósito é servi-la e não usá-la. Esta era uma condição indispensável para o exercício do ministério de pregação na igreja no período dos Pais Apostólicos. Como haverá de se expressar esta pureza de propósito? Ele evitará ser um peso para os membros da igreja. Isto o levará a não se hospedar durante muitos dias na casa dos irmãos na fé, não sair da igreja onde pregou carregando mais do que o necessário, não pedir dinheiro e não profetizar em causa própria.
Fica de modo claro a recomendação dos pregadores fiéis não imitarem em nada os falsos mestres. Sua preocupação deveria levá-los até mesmo a temerem praticar aquilo que poderia de algum modo, dar margem a uma interpretação equivocada da intenção do seu trabalho. Notamos que a recomendação guarda um certo rigor porque provavelmente a igreja já estava enfrentando naqueles dias sérios problemas com os pregadores itinerantes. Muitos usavam de sua suposta autoridade espiritual para explorarem a igreja.
O trabalho pastoral pressupõe amor. O que deve levar uma pessoa a se envolver com o ministério de pregação é sua agonia em ver tantas pessoas sem salvação. O conhecido Pai Apostólico, Policarpo, mostra que não só a Didaquê preocupou-se naqueles com o caráter dos ministros:
Os presbíteros também sejam compassivos, misericordiosos para com todos. Tragam de volta os desgarrados, visitem todos os doentes, não descuidem a viúva, o orfão e o pobre, mas sejam sempre solícitos no bem diante de Deus e dos homens. Abstenham-se de toda cólera, acepção de pessoas, julgamento injusto, mantenham-se distantes do amor ao dinheior, não creiam com muita pressa em qualquer um; não sejam severos no julgamento, sabendo que todos nós somos devedores do pecado”.[36]
3.1.3. OS PREGADORES DEVEM SER SANTOS (11:8, 10).
Nem todo aquele que fala inspirado é profeta, a não ser que viva como o Senhor. É assim que vocês reconhecerão o falso e o verdadeiro profeta... Todo profeta que ensina a verdade, mas não pratica o que ensina, é um falso profeta.[37]
A Didaquê apresenta o verdadeiro mensageiro de Deus como um homem que é ortodoxo na doutrina e santo na prática. Antes de tudo ele precisa de ser como o Senhor. A semelhança a Cristo se constituía no grande alvo da vida do mensageiro cristão. A prática da verdade é outra condição básica. O pregador precisa ser a própria apresentação da verdade. Os motivos desta ênfase na santidade são óbvios. Primeiro, porque é isto o que o Novo Testamento exige do ministro. Ao se dirigir ao jovem pregador Timóteo, o apóstolo Paulo avisa que só haveria uma única forma de Timóteo não ser desprezado pelo homens por causa da sua pouca idade. Se ele vivesse uma vida santa: “Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza”.[38]
Em segundo lugar, esta ênfase na santidade ocorre pelo motivo de ser impossível ouvir uma pessoa que não vive o que prega. Os ouvidos do ouvinte da mensagem do evangelho tornam-se surdos quando este não pode ver a verdade na vida do pregador.
O terceiro motivo, entre tantos outros que poderíamos mencionar, é o fato de que a verdade quando exemplificada pela vida de quem a proclama verbalmente, costuma vir acompanhada de um poder de convencimento muito maior.
O famoso pregador calvinista Charles Spurgeon via a santidade do ministro como sua maior necessidade:
No ministro, a santidade é ao mesmo tempo a sua principal necessidade e o seu mais excelente ornamento. A simples excelência moral não basta; é preciso haver virtude mais elevada. Tem que haver um caráter consistente, mas este precisa ser ungido com o óleo santo da consagração, ou, do contrário, estará faltando aquilo que nos impregna do melhor aroma para Deus e para os seres humanos.[39]
O que acabamos deve é aquilo que de modo implícito é apresentado como norma para a vida de um pregador. Esse deve ser fiel à doutrina, desprovido de todo intuito ganancioso e santo. Mas, a Didaquê tem algo a dizer aqueles que param para ouvir os que pregam. Porque falsos profetas podem se imiscuir na vida da igreja, seus membros devem ser criteriosos em sua relação com os pregadores. Como esses, no entanto, são um canal da comunicação da verdade do evangelho a igreja deve tê-los em alta consideração. São três, sendo assim, os principais deveres da igreja para com os pregadores da palavra.
3.2. OS DEVERES DOS MEMBROS DA IGREJA PARA COM OS PREGADORES.
3.2.1. OS PREGADORES VERDADEIROS DEVEM SER ACOLHIDOS PELA IGREJA (11: 1,2,4).
Se alguém vier até vocês ensinando tudo o que foi dito antes, deve ser acolhido... se ele ensina para estabelecer a justiça e o conhecimento do Senhor, vocês devem acolhê-lo como se fosse o Senhor...Todo apóstolo que vem até vocês seja recebido como o Senhor...[40]
A Didaquê ensina a igreja a ter em alta consideração o trabalho dos pregadores. Estes devem ser acolhidos como se fossem o próprio Senhor. Nas citações acima vemos em três versículos a ordem para que os cristãos recebessem os mensageiros como se estes fossem o próprio Senhor. O motivo é muito simples. Um pregador fiel que expõe a verdade apostólica é como se fosse o Senhor Jesus Cristo falando através dele. Isto nada mais é do que um eco do ensino claro do Novo Testamento. Paulo, na Segunda carta aos Coríntios no capítulo cinco versículo vinte expressa a convicção de que Deus fala através do pregador evangélico: “De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus”.
Tudo isto revela o apreço que havia naqueles dias pela pregação da Palavra de Deus. As pessoas eram estimuladas a perceberem o valor incalculável de se ter no seio da igreja alguém através do qual Cristo fala. Vemos, então, o porque da pregação ser uma instituição cristã. As gerações subsequentes de crentes compreenderam que a igreja é edificada de modo singular pela exposição da verdade. E por isto todo o capítulo treze da Didaquê é dedicado ao sustento amoroso destes que são porta vozes de Deus:
Todo verdadeiro profeta que queira estabelecer-se entre vocês é digno do seu alimento. Da mesma forma, também o verdadeiro mestre é digno do seu alimento, como todo operário. Por isso, tome os primeiros frutos de todos os produtos da vinha e da eira, dos bois e das ovelhas, e os dê para os profetas, pois eles são os sumo sacerdotes de vocês.[41]
A condição para que tratamento honroso fosse dado ao pregador era bastante clara. Este deveria ser fiel. E somente este deveria ser tratado de modo distinto. Sendo assim qual deve ser o conteúdo da sua mensagem? Primeiro, não se exige que ele seja original, mas que fale a verdade. Ele deve tão somente falar “tudo o que já foi dito antes”. Depois a Didaquê estabelece como condição básica que o conteúdo de sua mensagem trate dos aspectos essenciais da verdade: a “justiça”e o “conhecimento do Senhor”. Como diz Richard Baxter:
Assim, as grandes verdades, comumentes reconhecidas, são aquelas pelas quais os homens vivem e são os grandes instrumentos que elevam os seus corações a Deus. São elas que destroem os pecados dos homens. Focalizem, pois, essas verdades centrais, e evitarão pormenores frívolos, enfeites desnecessários e controvérsias sem proveito. Ao invés disso, lembrem-se daquilo que é verdadeiramente necessário. Outra verdades podem ser desejáveis, mas estas precisam ser conhecidas.[42]
Se houve um momento na história da igreja em que a pregação foi honrada este período foi o do puritanismo tanto inglês quanto norte-americano.Leland Ryken em Santos no Mundo relata um incidente ocorrido próximo ao século dezesseis na Inglaterra. Laurence Chaderton, primeiro mestre do Emmanuel College, Cambridge, está pregando em sua nativa Lancashire. Este condado do norte, diz Ryken, é território católico:
As pessoas não ouvem bons sermões com frequência. Chaderton prega há duas horas. Está para concluir e diz algo no sentido ‘de que não mais infrigiria contra a paciência deles’. Mas a audiência não permite que o pregador pare. ‘Pelo amor de Deus, senhor, continue, continue’, instam eles. ‘No que’, nos dizem, ‘o Sr. Chaderton foi surpreendido a proferir um discurso mais longo, além de sua expectativa, para satisfazer a importunidade deles’.[43]
No sermão de ordenação de Jonathan Judd, que se tornara ministro de uma nova congregação que se organizara em 1743 em Southampton, Jonathan Edwards faz a seguinte adomoestação:
Existem alguns professantes, em algumas das nossas cidades, que são homens antiministeriais; eles parecem ter uma disposição para sentirem antipatia por homens desta ordem; eles são aptos para ter preconceitos contra eles, supeitarem deles, e falarem contra eles; e parece ser natural para eles não serem amigáveis e bondosos para com seus próprios ministros, e criarem dificuldades para eles. Mas, eu não acredito que haja um verdadeiro cristão na terra que seja deste caráter; pelo contrário... todo que recebe a Cristo, e cujo coração é governado por um supremo amor por ele, tem a disposição de receber, amar e honrar seus mensageiros.[44]
A conclusão a que chegamos, portanto, é que faz parte da tradição cristã honrar os ministros e ver a pregação fiel como um meio gracioso de Deus transformar o coração humano. A igreja não teria chegado até onde chegou sem o trabalho dessa gente.
3.2.2. OS PREGADORES QUE NÃO TRAZEM A VERDADEIRA DOUTRINA NÃO DEVEM SER ACOLHIDOS PELA IGREJA (11:2).
“Mas se aquele que ensina for perverso e expuser outra doutrina para destruir, não lhe dêem atenção”.[45]
O respeito que a igreja deveria ter pelos verdadeiros pregadores era proporcional a determinação de não acolher os falsos. Os parâmetros da pregação estabelecidos pelos apóstolos deveriam ser respeitados de uma tal forma que nada fosse subtraído ou acrescentado. O pregador era livre para fazer as aplicações mais diferentes das verdades básicas do cristianismo, mas não para pregar qualquer coisa que não fosse o evangelho.
O principal motivo pelo qual o pregador infiel não deveria ser acolhido era o caráter deletério de sua mensagem. O ensinamento herético destrói a igreja. Portanto, nunca uma congregação cristã no período dos Pais Apostólicos deveria em nome do amor ou da liberdade de pensamento acolher um pregador infiel. Este não deveria ser honrado.
A carta de Inácio aos Efésios documento que faz parte do conjunto de literatura do período dos Pais Apostólicos demonstra o quanto os líderes daquela geração eram refratários a qualquer idéia de dar boas vindas à alguém que não pregasse segundo os oráculos de Deus: “Eu soube que por aí passaram alguns, levando o mau ensinamento. Vós, porém, não os deixaste semear em vosso meio, tapando os ouvidos para não receber o que eles semeiam, porque sois pedras do templo do Pai, preparados para a construção de Deus Pai...”[46] As igrejas fiéis, deste modo, não deveriam permitir que falsos mestres “semeassem em vosso meio”.
Gresham Machem que como poucos soube defender a igreja dos ataques da insipiente teologia liberal, antevendo os estragos que o cristianismo haveria de sofrer com os ensinos liberais, foi levado a fazer o seguinte alerta:
O presente não é um tempo para tranquilidade ou prazer, mas para seriedade e obra súplice. Uma crise terrível tem surgido, de forma inquestionável, na igreja. No ministério das igreja evangélicas são encontradas multidões daqueles que rejeitam o evangelho de Cristo. Pelo uso duvidoso de frase tradicionais, pela representação de diferenças de opinião como se fossem apenas diferenças sobre interpretação da Bíblia, a entrada na igreja foi assegurada àqueles que são hostis com relação às próprias bases da fé.[47]
3.2.3. OS PREGADORES DEVEM SER TRATADOS PELA IGREJA DE FORMA CRITERIOSA (11:5-6, 8-12).
Ele não deverá ficar mais que um dia ou, se for necessário, mais outro. Se ficar por três dias, é um falso profeta. Ao partir, o apóstolo não deve levar nada, a não ser o pão necessário até o lugar em que for parar. Se pedir dinheiro, é um falso profeta. Nem todo aquele que fala inspirado é profeta, a não ser que viva como o Senhor. É assim que vocês reconhecerão o falso e o verdadeiro profeta. Todo profeta que, sob inspiração, manda preparar a mesa, não deve comer dela. Caso contrário, trata-se de um falso profeta. Todo profeta que ensina a verdade, mas não pratica o que ensina, é um falso profeta. Todo profeta comprovado e verdadeiro, que age pelo ministério da Igreja, mas não ensina a fazer como ele faz, não será julgado por vocês. Ele será julgado por Deus. Assim também fizeram os antigos profetas. Se alguém disser sob inspiração. ‘Dê-me dinheiro’ ou qualquer outra coisa, não o escutem. Contudo, se ele pedir para dar a outros necessitados, então ninguém o julgue.[48]
A igreja do período dos Pais Apostólicos teve que enfrentar sérios problemas com falsos mestres e falsos profetas. À luz de quase todos os documentos dessa época isto é muito evidente. E qualquer estudo sobre história da igreja comprova o fato de que os maiores prejuízos que a igreja sofreu ao longo dos séculos não foram ocasionados por inimigos de fora, mas inimigos de dentro.
A atualidade da Didaquê pode ser provada pelos versos mencionados acima. Observa-se com clareza que a igreja não apenas enfrentava problemas com pessoas que ensinavam o oposto da mensagem dos apóstolos. Os cristãos daquela geração tiveram que saber o que fazer com os falsos profetas itinerantes que de cidade em cidade falavam sob inspiração supostamente divina. Este profetizavam em favor de si próprios. Ora, dizendo sob falsa inspiração que Deus ordenava que a igreja lhes oferecesse provisão material, e, ora, procurando benefício indireto na forma da apresentação de profecias que nada mais eram do que a comunicação de mensagens que todo mundo queria ouvir. Por isto regras claras foram apresentadas pelas lideranças cristãs a fim de que a vida destes falsos profetas se tornasse inviável.
As principais diretrizes eram as seguintes: primeiro, estimulava-se a igreja a não ter como profeta alguém que permanecesse mais de três dias na casa de um irmão na fé. Isto caracterizaria seu intuito ganancioso. Em segundo lugar, este não deveria partir da cidade com mais do que o necessário para a sua próxima viagem. Sua viagem evangelística não deveria conferir-lhe lucro. Em terceiro lugar, não se admitia que alguém que afirmava-se crer no ministério profético, fosse incapaz de crer que Deus poderia suprir suas necessidades financeiras de modo sobrenatural. Este nunca deveria pedir dinheiro à igreja. Caso o fizesse a igreja deveria considerá-lo falso profeta.
Em quarto lugar, a igreja não deveria atentar apenas para o seu modo “inspirado” de falar, mas para sua conduta. Este homem deveria viver como o Senhor. Praticar o que ensinava.
Em quinto lugar, suas profecias nunca deveriam beneficiar-lhe. Se ele mediante profecia dizia que uma mesa deveria ser posta, era obrigado a dela não se alimentar. Ou seja, a igreja não acreditava que Deus supriria as necessidades do profeta usando as profecias do mesmo.
Outro documento muito importante para o conhecimento da vida das igrejas dos primeiros séculos é o Pastor de Hermas. A semelhança com o que acontece nos dias de hoje é evidente. Ele fala de pessoas vacilantes que procuravam os falsos profetas a fim de saberem o que lhes haveria de acontecer:
Ele me mostrou homens sentados num banco e outro homem sentado numa poltrona. E me disse: ‘Vês as pessoas sentadas no banco?’ Eu respondi: ‘Sim Senhor’. Ele explicou: ‘Esses são fiéis, e o que está assentado na poltrona é falso profeta, que corrompe a inteligência dos servos de Deus, isto é, corrompe a inteligência ods que duvidam, e não dos fiéis. Aqueles que duvidam vão até ele como adivinho e lhe perguntam o que lhes acontecerá. Então esse falso profeta, sem ter em si nenhum poder do espírito divino, responde-lhes segundo o que perguntam e segundo seus maus desejos, satisfazendo-lhes a alma com o que desejam. Sendo vazio ele próprio, dá respostas vãs a homens vãos. Seja qual for a pergunta, ele responde conforme a vaidade do interrogador. Também diz coisas verdadeiras, pois o diabo o enche com o seu espírito, a fim de dobrar algum justo.[49]
Percebemos que a história da igreja nos mostra que dificilmente encontramos nas igreja de hoje, problemas que não foram enfrentados pelas igrejas do passado. Crentes naqueles dias procuravam os falsos profetas tal como os pagãos procuravam os adivinhos: “...os vacilantes e que mudam constantemente de opinião, consultam os adivinhos como os pagãos, e carregam-se de pecados maior que os idólatras”.[50]
É interesante observar que as profecias não eram de todo combatidas. Acreditava-se que Deus poderia usar um homem dessa forma incomum. Capacitando-o a expor o pensamento de Deus ao povo:
Quando um homem, que tem o espírito de Deus, entra numa assembléia de homens justos, crentes nos espírito divino, e nessa assembléia de homens justos se suplica a Deus, então o anjo do espírito profético que está junto dele, plenifica esse homem, e ele, pleno do Espírito Santo, fala à multidão conforme quer o Senhor.[51]
Esse fenômeno é encontrado no período posterior aos Pais Apostólicos. Agostinho acreditava que sua mãe Mônica era usada por Deus desse modo sobrenatural:
Minha mãe forte na piedade, já viera ao meu encontro, seguindo-me por terra e por mar, em ti confiando em todos os perigos. Era ela, nos momentos críticos da navegação, quem incutia coragem aos próprios marinheiros, que habitualmente confortam os viajantes inexperientes e timoratos, prometendo-lhes uma chegada a salvo. Foste tu, em visão, quem o havias prometido a ela.[52]
Martyn Lloyd-Jones revela não apenas crer que este tipo de fenômeno pode acontecer nos dias de hoje como também apresenta fatos históricos que o comprovam:
Há evidência, de muitos Reformadores Protestantes e Pais, que alguns deles tiveram um genuíno e verdadeiro dom de profecia, eu quero dizer por isto predizer eventos. E você acha entre os Pactuários Escoceses pessoas como Alexander Peden e outros que deram acurada, e literal profecia de coisas que subsequentemente vieram a acontecer”. E ele conclui dizendo: “Nosso perigo é apagar o Espírito e colocar limite para o poder de Deus, o Espírito Santo.[53]
Os abusos, no entanto, eram tamanhos que no Pastor de Hermas encontramos orientações seguras quanto a forma da igreja lidar com este tipo de manifestação espiritual: Quem tem o espírito que vem do alto, é calmo, sereno e humilde... O Espírito Santo não fala quando o homem quer, mas só quando Deus quer que ele fale”.[54] Era inconcebível que este homem se comportasse de uma determinada maneira. A forma própria de um espírito terreno trabalhar: “... tal homem, que julga possuir o espírito, exalta-se a si mesmo, quer ter o primeiro lugar, e logo se apresenta descaradamente, imprudente e loquaz. Vive em meio a muitas delícias e muitos prazeres, e aceita pagamento por profecia”.[55]
IV. OS BENEFÍCIOS QUE A IGREJA MODERNA PODE AUFERIR DO PONTO DE VISTA DA DIDAQUÊ SOBRE O MINISTÉRIO DA PREGAÇÃO.
A leitura da Didaquê mostra porque ela não entrou no Cânon do Novo Testamento. Falta-lhe uma série de atributos que encontramos nos vinte e sete livros neo-testamentários que a igreja reconheceu como inspirados. A análise da literatura dos Pais Apostólicos mostra-nos como Deus pela sua providência protegeu a igreja de incluir no Cânon livros que haveriam de infelicitar a vida de tantos crentes. Longe, portanto, de considerar a Didaquê inspirada.
Penso, no entanto, que devido à sua antiguidade, respeito de que gozou em seu tempo, riqueza histórica e atualidade de seus temas, que deva ser estudada por nós com bastante cuidado. Seus conselhos com respeito à relação da igreja com os pregadores, podem até parecer exagerados, mas revelam grande perspicácia espiritual e fidelidade ao Novo Testamento. Sua aplicabilidade é grande à realidade que nos cerca. Que lições daquele tempo podemos aplicar à vida de nossas igreja hoje?
A primeira lição, é que o adversário de nossas almas sempre tratou de desacreditar o ministério de pregação. As derrotas que o inferno tem experimentado por causa da pregação fiel e ungida são tamanhas, que o Diabo trabalha duro para que a pregação caia em descrédito. Hoje, em nosso país, o ministério pastoral tem caído em descrédito de inúmeras formas. Uma delas é o número grande de pastores mal preparados, que por pura falta de capacidade intelectual não conseguem expor a verdade. Quem os ouve torna-se muitas vezes cansado de sentar-se para ouvir qualquer outro. Não é tarefa fácil durante uma hora ouvir alguém que não diz coisa alguma. Poucos dão este direito a outra pessoa, a não ser ao ministro. E este não aproveita tão grande privilégio e oportunidade de fazer o bem por não conhecer nem mesmo o que prega.
Não pode acontecer de uma pessoa levar sete anos numa faculade de medicina, entre presença em sala de aula e residência, a fim de poder clinicar bem, e um homem em seis meses se sentir em condições de pastorear, falando sobre questões de vida ou morte em nome de Deus para almas sequiosas da verdade.
Há daqueles que fizeram o ministério de pregação cair em descrédito não pela escassez de conteúdo em suas mensagens, mas por simplesmente se comportarem como ímpios. Uns são carnais mesmo, cometendo os mais vis pecados. Outros são tão descuidados com a forma de falar e se comportar que destróem com a vida o que procuram construir no púlpito. Uma hora falando esplendidamente para no minuto seguinte, na mesa de jantar destruir tudo o que procurou contruir. Assim trabalha o adversário da causa de Cristo, enviando para o púlpito seus servos, ou levando a igreja permitir que preguem homens que deveriam estar sentados ouvindo por serem desprovidos de envergadura espiritual. Que benefícios seriam auferidos pelos nossos crentes se o púlpito fosse vetado para muitos que anseiam por ocupá-lo.
Em segundo lugar, aprendemos que a igreja não pode ser tolerante com os falsos mestres. Não teríamos chegado aqui se as recomendações da Didaquê, por exemplo, não fossem feitas com tamanho rigor. Há crentes e seminaristas que honram mais os que negam os fundamentos da fé do que os leais servos de Deus. Aqueles são tidos como inteligentes, abertos ao saber, não dogmáticos e assim por diante. Enquanto esses são os de mente estreita, obtusos e que não se abrem para o novo. Pode até ser o caso de um professor liberal, por exemplo, ser o mais inteligente do seminário teológico. O que tem mais cultura geral e se comunica melhor. Mas, se ele não fala de acordo com as Escrituras Sagradas não deve ser ouvido e honrado. Fora o absurdo de deixá-lo ocupar espaço num lugar onde nunca poderia estar.
Pai Apostólico nenhum permitiria, à luz de tudo o que vimos, que um herege confesso tivesse espaço numa instituição cristã de ensino à título dos alunos aprenderam um pouco sobre o “outro lado da história”. A igreja nunca precisou desse tipo de coisa. O erro está em toda parte por todo canto. E nada mais fácil do que crentes fracos perderem a alma através do contato com este tipo de gente. Isto a história recente dos seminários do mundo inteiro tem ensinado. É uma deslealdade para com o povo de Deus, igrejas confessionais pagarem para homens que não subscrevem sua confissão de fé ensinarem. Enquanto estas instituições de ensino são mantidas com o dinheiro daqueles, homens cujos ensinamentos são abominação para quem os alimenta, permanecem ocupando posições centrais em locais de formação de futuros ministros. Homens que se dizem crentes e não crêem na inspiração plenária e verbal da Bíblia não deveriam ter seus livros divulgados ou ser convidados para dar palestras em comunidades cristãs.
Está historicamente comprovado que por onde o liberalismo teológico passou a temperatura espiritual das igrejas decaiu. Como diante de tanta evidência histórica podemos permitir que esta gente seja recebida na igreja de Cristo? Pessoas que invariavelmente tem problemas sérios de caráter. Como não? Se elas fossem honestas redigiriam sua própria confissão de fé, negando a Bíblia, a morte substitutiva da Cristo, a necessidade de arrependimento e fé para a salvação, entre outras doutrinas mais. O que não fazem publicamente porque sabem que vão passar fome.
Em terceiro lugar, a igreja deve estar atenta ao exercício indiscriminado da profecia. Através da literatura dos Pais Apostólicos percebemos que a igreja desde os tempos mais antigos tem enfrentado problema com o dom de profecia. Não encontramos em nenhum escrito da época orientação para se negar a possibilidade de Deus falar deste modo incomum. Não há nenhuma recomendação no Novo Testamento e na literatura dos Pais Apostólicos para este tipo de coisa. E é impossível mediante uma base histórica também negarmos a continuidade desse tipo de manifestação espiritual. Martyn Lloyd-Jones talves tenha sido o pregador calvinista que mais teve coragem de publicamente admitir a possibilidade dessa obra do Espírito Santo:
Não somente isso, mas muitas vezes também é dado um dom de profecia. Refiro-me literalmente a uma capacidade de predizer o futuro. Precisamos enfrentar estas coisas porque parece-me que estamos em grave perigo, com todo o nosso conhecimento e sabedoria, de apagarmos o Espírito. Estou colocando fatos diante de vocês. Este fenômeno de profecia, esta capacidade de predizer o futuro, faz-se presente com muita frequencia. Assume muitas formas. Conheci um homem cujo pastor recebeu este Dom no avivamento de 1904 e 1905. Desapareceu completamente mais tarde, mas enquanto o avivamento durou, ele recebeu de antemão a revelação de algo que iria acontecer em sua igreja, e não só um vez, mas manhã após manhã. Ele era despertado de um sono profundo às duas e meia da madrugada, e recebia informação direta e exata de algo que iria acontecer durante aquele dia, e acontecia. Essa é outra parte deste fenômeno mental”.[56]
Sendo assim, por maiores que sejam os perigos que advém do exercício da profecia (falo daquela que é chamada na Didaquê de inspirada, embora eu mesmo não use esta terminologia, deixando-a para às Escrituras Sagradas), não devemos nos fechar para a soberania do Espírito Santo nesta área e para os benefícios que podem se auferidos por meio dessa manifestação do Espírito.
Parece, pelo que podemos ver, que provavelmente esta manifestação espiritual foi se tornando escassa na igreja com o passar dos anos por causa dos seus erros e exageros. Há quem afirme que o movimento montanista com todo os seus abusos no uso da profecia tenha sido uma das principais causas da igreja haver deixado esta obra espiritual de lado. E isto não podemos negar. A forma indiscriminada de se relacionar com a profecia tem trazido muito confusão à igreja no decorrer dos séculos. Exemplos notáveis além do supra mencionado, é o dos Quakers e o do movimento Anabatista, que com todo seu subjetivismo e ênfase na chamada “luz interior”, afastaram muitos crentes da principal forma do Espírito Santo falar ao homem, que é pela Palavra que ele próprio inspirou.
Hoje em nosso país é tamanho o abuso do dom de profecia que com relutância afirmamos a possibilidade de tal manifestação ocorrer. Pessoas que não conhecem a Escritura por preguiça e indiferença espiritual, vivem em busca desta manifestação espiritual a fim de terem seus problemas resolvidos. Outros pecam por julgarem que sempre este dom tem que se manifestar, o que é igualmente negado pela história eclesiástica, mesmo nos melhores tempos da vida da igreja. Martyn Lloyd-Jones parece discordar dos restauracionistas ao declarar: “Nós não devemos dizer ‘apenas para o Novo Testamento’, nem dizer ‘sempre’. A resposta é, ‘como lhe apraz’, como o Espírito deseja”.[57]
A pergunta que deveríamos responder em face dos erros cometidos pela igreja em sua relação com os falsos profetas é a seguinte: que recomendações da Didaquê poderiamos aplicar a fim de que o povo de Deus fosse protegido da ação desses, que desde o tempo da Didaquê falando de uma forma supostamente inspirada, exigem que a igreja dê crédito às suas palavras? Há muita ingenuidade no contato com essa gente. E enquanto esses que vivem por meio dessas falsas profecias, vão determinando o curso da vida de homens e mulheres, fazendo avaliações intuitivas do estado espiritual das pessoas, pregando o que os outros querem ouvir e livremente usando em vão o nome de Deus.
Mas, gostaria de concluir, contudo, de um modo positivo. Conforme vimos, a Didaquê não tem interesse em apenas mostrar os perigos que envolvem o contato indiscriminado com mestres, pregadores e profetas. Seu propósito é o de dar ênfase a dignidade do ministério de pregação. Um pregador fiel deve ser ouvido, honrado e tido em alta estima pela igreja. Pode ser que não seja um grande orador, ou empreendedor, ou alguém com aura de profeta, mas se esse homem é um expositor fiel da Biblia a igreja deveria amá-lo por tudo aquilo que de bom representa para ela.
Mediante o ministério de pregadores fiéis, Cristo governa sua igreja por meio da sua palavra, pecadores são acrescidos à congregação dos justos e a família da fé é nutrida. Feliz a igreja que pode semana após semana conhecer a mente de Deus através da exposição bíblica feita por um pregador santo. Aqui nós temos uma base mais segura para afirmarmos que Deus está falando por meio da boca de uma homem. Não pode na nossa nação de ocorrer que supostos profetas, manipulando consciências através de um modo “inspirado” de falar granjeiem mais atenção e respeito do que pregadores que por temerem a Deus não ousam falar nada que não esteja claramente revelado em sua palavra e que por temor falam das suas impressões espirituais como impressões e não profecias.
Carecemos de regatar a dignidade do púlpito. A igreja não passa dele. Com dificuldade a igreja terá maturidade espiritual maior do que seus ministros. Por isso os pregadores devem se esmerar para, conforme exemplo da Didaquê, serem santos, fiéis à verdade e pregarem o que é essencial. E os crentes que detectam tais virtudes na vida dos seus pastores, levados a amá-los, ouvi-los e criarem condições para que eles cumpram fielmente sua vocação.
V. CONCLUSÃO.
Acabamos de fazer uma análise de um dos aspectos da vida da igreja em seus primórdios. Descobrimos que embora estajamos há dois mil anos de distância dos Pais Apostólicos, temos muito o que aprender com seus problemas e as soluções que encontraram para os mesmos. Quase sempre, eu sei, esse tipo de coisa é falada em livros de história. Mas, que bem faria para a igreja de hoje se vissemos as lutas daquela geração de crentes como batalhas que frequentemente se repetem na vida da igreja e as soluções que encontraram para seus conflitos como uma possível sabedoria dada pelo Espírito Santo a fim de que algo te tão precioso fosse preservado na igreja, a fiel pregação da Palavra de Deus.
A Didaquê consegue nos mostrar uma caminho onde a igreja deixa de ser ingênua no contato com os pregadores e ao mesmo tempo não deixa de auferir os benefícios que pode receber do ministério deles. Os crentes são estimilados a fecharem as portas para os falsos mestres e profetas e acolherem com grande honra os verdadeiros mensageiros de Deus. Ficamos coma impressão, sendo assim, que se a Didaquê fosse ouvida muitos dos problemas que a igreja tem enfrentado nos últimos anos não enfrentaria.
Se a Didaquê tivesse sido ouvida por gerações passadas de crentes, hereges não receberiam a honra que receberam, falsos profetas por melhor que representassem seu papel de homens inspirados seriam calados e os verdadeiros ministros vistos como uma grande expressão da bondade de Deus pela sua igreja.
BIBLIOGRAFIA
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[8] Ibidem, p. 20
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[17] OLSON, Roger. História da teologia cristã. São Paulo, 2001. Editora Vida. P. 39.
[18] Ibidem, p. 40
[19] GONZÁLES, Justo. Historia del pensamiento cristiano. Colombia, 2002. Editorial Caribe. P . 68.
[20] Ibidem, p.68.
[21] FRANGIOTTI, Roque (ed.). Padres apostólicos. Coleção Patrística, Vol. I. São Paulo: Paulus, 1995.p 336-337.
[22] GONZÁLES, Justo. Historia del pensamiento cristiano. Colombia, 2002. Editorial Caribe. P . 68.
[23] STANIFORTH, Maxwell. Early christian wrintings: the apostolic fathers. New York, 1993. Barnes & Noble. P. 225.
[24] CESARÉIA, Eusébio. História eclesiástica. São Paulo, 2002. Novo Século. P. 99
[25] GONZÁLES, Justo. Historia del pensamiento cristiano. Colombia, 2002. Editorial Caribe. P . 67.
[26] QUASTEN, Johannes. Patrology. Vol. I. Westminster, 1993. Christian Classics. P. 30.
[27] STANIFORTH, Maxwell. Early christian wrintings: the apostolic fathers. New York, 1993. Barnes & Noble. P. 226.
[28] FRANGIOTTI, Roque (ed.). Padres apostólicos. Coleção Patrística, Vol. I. São Paulo: Paulus, 1995.p 334-335.
[29] Ibidem, p.84
[30] ibidem, p.84
[31] Jd 4
[32] I Tm 4: 1-2
[33] GEORGE, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo, 2000. Edições Vida Nova. P. 241.
[34] Ibidem, p. 242
[35] FRANGIOTTI, Roque (ed.). Padres apostólicos. Coleção Patrística, Vol. I. São Paulo: Paulus, 1995.p 355-356.
[36] Ibidem, p. 142-143.
[37] Ibidem, p. 355-356.
[38] I Tm 4: 12
[39] SPURGEON, Charles. Licões aos meus alunos. São Paulo, 1982. PES. P. 17.
[40] FRANGIOTTI, Roque (ed.). Padres apostólicos. Coleção Patrística, Vol. I. São Paulo: Paulus, 1995.p 354-355.
[41] Ibidem, p. 357
[42] BAXTER, Richard. O pastor aprovado. São Paulo, 1989. PES. P. 38.
[43] RYKEN, Leland. Santos no mundo. São José dos Campos, 1992. Editora Fiel. P. 103
[44] MURRAY, Iain. Jonathan Edwards a new biography. Carlisle, 1992. Banner of Truth. P. 280
[45] FRANGIOTTI, Roque (ed.). Padres apostólicos. Coleção Patrística, Vol. I. São Paulo: Paulus, 1995.p 355.
[46] Ibidem, p.84-85.
[47] MACHEN, J. Gresham. Cristianismo e liberalismo. São Paulo, 2001. Editora Os Puritanos. P. 172
[48] ibidem, p. 355-356.
[49] FRANGIOTTI, Roque (ed.). Padres apostólicos. Coleção Patrística, Vol. I. São Paulo: Paulus, 1995.p 209.
[50] Ibidem, p. 209
[51] ibidem, p. 210
[52] AGOSTINHO. Confissões. São Paulo, 1986. Edições Paulinas. P. 131.
[53] LLOYD-JONES, Martyn. Prove All Things. Eastbourne, 1985. Kingsway Publications. P. 45
[54] FRANGIOTTI, Roque (ed.). Padres apostólicos. Coleção Patrística, Vol. I. São Paulo: Paulus, 1995. P. 210.
[55] Ibidem, p. 210.
[56] LLOYD-JONES, Martyn. Avivamento. São Paulo, 1992. Editora Pes. P. 140.
[57] LLOYD-JONES. Prove All Things. Eastbourne, 1985. Kingsway Publications. P. 48
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