quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

JONATHAN EDWARDS E O LUGAR DO INTELECTO NA EXPERIÊNCIA DE SALVAÇÃO


INTRODUÇÃO
Qual o valor de estudarmos um tema como este? Penso que o valor de separarmos tempo para pensarmos sobre o que Edwards tem a dizer a respeito do conhecimento salvador da pessoa de Deus deve-se aos seguintes fatores: primeiro, porque não há empreendimento mais importante na vida de um homem do que saber como alcançar o conhecimento salvador de Deus. Fomos criados para conhecer a Deus e em o conhecendo amá-lo e gozá-lo para sempre. É através do conhecimento salvador de Deus que o homem escapa tanto da sua perdição metafísica quanto da sua perdição moral. O homem é um ser perdido metafísica e moralmente. É o conhecimento salvador de Deus que leva o homem a deixar de se ver como uma “piada trágica num contexto de total absurdo cósmico”, como também um ser que caminha inexoravelmente para receber a justa punição eterna de Deus. Como diz J. I. Packer:

“Para aqueles que não conhecem a Deus o mundo se torna um lugar estranho, louco, penoso, e viver nele algo de decepcionante e desagradável. Despreze o estudo de Deus e você estará sentenciando a si mesmo a passar a vida aos tropeções, como um cego, como se não tivesse qualquer senso de direção e não entendesse aquilo que o rodeia. Deste modo poderá desperdiçar a sua vida e perder a sua alma”.[1]

Em segundo lugar, diferenciar o conhecimento especulativo de Deus do conhecimento do coração é fundamental num contexto onde alertados pelas Escrituras Sagradas (Tg 2:19) sabemos que é possível se obter nesta vida um conhecimento de Deus que só serve para aumentar o temor servil e elevar o nível de punição eterna. Há um conhecimento de Deus que evidentemente não salva. Nem todos, num certo sentido, os que conheceram e conhecem a Deus serão salvos. Saber separar uma espécie de conhecimento de outro é essencial para aquele que quer se certificar da sua participação nas bênçãos da nova aliança.

Em terceiro lugar, é fato fora de controvérsia que todo conhecimento salvador de Deus procede do Espírito Santo. Conhecer o seu papel nesta obra de obtenção de conhecimento salvífico torna-nos tanto mais humildes na busca, pois neste campo Ele é soberano, como também torna-nos mais prudentes em sabermos o que procurar, ou nos certificarmos se o que dizemos ter encontrado procede da Sua verdadeira operação, pois nesta área sua obra conforme revelada na Palavra de Deus é normativa. É o próprio Edwards quem diz num contexto em que fala sobre avivamento algo que se aplica também ao que estamos falando:
“A igreja de Cristo deveria ser guarnecida com algumas certas regras, marcas distintivas e claras, pelas quais ela pudesse proceder seguramente em julgar o verdadeiro do falso sem perigo de ser iludida... existem indubitavelmente marcas suficientes dadas para guiar a igreja de Deus neste grande trabalho de julgar os espíritos...”2

Em quarto lugar vale a pena ressaltar o valor de procurarmos entender a doutrina através do grande pregador americano Jonathan Edwards. Há poucos mestres cristãos abaixo dos apóstolos com tal autoridade para falar tanto sobre conhecimento quanto sobre Deus como Edwards. Nele encontramos uma mente prodigiosa, que se recusa fazer teologia de uma forma que não seja racional, vindo assim a satisfazer as demandas teológico-filosófico-epistemológicas daqueles que se recusam usar a razão para negar a razão, como também a absoluta dependência calvinista da obra do Espírito Santo que o tornam um pregador racional sem ser racionalista, diligente na obtenção do conhecimento de Deus, mas sem deixar de esperar na graça Divina e alguém que nos ensina a conhecer teologicamente a Deus sem deixar de ansiar por conhecê-lo visceralmente também. Como diz B. B. Warfield:

“Jonathan Edwards, santo e metafísico, reavivalista e teólogo, sobressai como o principal vulto de real grandeza na vida intelectual da América colonial”.3

O que talvez tenha sido o maior conhecedor das obras de Jonathan Edwards, o teólogo americano John Gerstner, refere-se da seguinte forma a relação entre razão e iluminação na teologia de Edwards:
“Ele foi um homem que via sólidas razões para a fé, tal como fez seu predecessor, Aurelius Augustine(‘Jamais há fé a não ser com uma razão para ela’); mas Edwards viu claramente que embora o homem nunca é convertido sem razões, ele nunca é convertido por elas”.
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Fora os seus poderes mentais e seu conhecimento teológico, Jonathan Edwards foi um homem cuja vida teve como uma das principais marcas experiências notáveis com o Deus que viera a conhecer. Como diz Martyn Lloyd-Jones:
“Ele foi, preeminentemente, o teólogo do avivamento, o teólogo da experiência, ou, como alguns o expressaram, o teólogo do coração... nele vocês têm um intelecto aquecido pelo Espírito Santo e cheio dEle”.
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Homem de santidade incomum, Edwards passou por dois avivamentos em seu ministério (1734-35 e 1739-40) e viveu experiências com Deus que fazem muitos teólogos perceberem a vacuidade de suas vidas como também o fato que uma coisa é dominar os escritos calvinistas outra coisa é ter o espírito calvinista. Experiências que também levam tantos outros que se nos apresentam como detentores do saber e viver pneumatológico a sentirem-se pigmeus espirituais diante deste gigante que com a mente iluminada pela verdade não conseguia conter as lágrimas na presença daquele Deus que lhe era tão amável e excelente. A título de ilustração deixe-me mencionar um episódio de sua vida no ano de 1737. É dele o relato:

“Às vezes a simples menção de uma palavra faz o meu coração arder dentro de mim. Ou basta que eu veja o nome de Cristo, ou o nome de algum atributo de Deus, e Deus se revela a mim de forma gloriosa. Com respeito a Trindade, evoca-me pensamentos exaltados de Deus, de que Ele subsiste em três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo. As alegrias mais profundas e os maiores deleites que experimentei não foram os que nasceram de uma esperança do meu próprio bem estar, a sim os de uma visão direta das glórias do evangelho. Quando gozo desta doçura, ela parece elevar-me acima das preocupações pela minha própria situação. Em tais ocasiões, tirar os olhos da gloriosa presença que estou contemplando, e voltar os olhos para mim mesmo e para meus interesses, parece-me uma perda que não posso suportar.

Certa ocasião, quando saí para uma caminhada na floresta, por razões de saúde, em 1737, tendo desmontado do meu cavalo, num lugar isolado, como tem sido meu costume, de andar para meditar e orar, tive uma visão para mim extraordinária, uma visão da glória do Filho de Deus como mediador entre Deus e os homem, da Sua grande, maravilhosa, pura, doce graça e amor, como também da Sua condescendência mansa e gentil. Esta graça, que me pareceu tão calma e doce, também me pareceu imensa, acima dos céus. A pessoa de Cristo me parecia inefavelmente excelente, com uma excelência grande o suficiente para absorver todo pensamento e idéia, e isso continuou, pelo que posso julgar, por cerca de uma hora, e me manteve a maior parte deste tempo em lágrimas copiosas. Senti uma ardência de alma, um anseio por ser, e não de que outra forma posso expressá-lo, esvaziado e aniquilado, de me deitar no pó e ser cheio de Cristo somente, e de amá-lO com um amor puro e santo. Confiar nEle, olhar para Ele, servi-lO, segui-lO, e ser perfeitamente santificado e feito puro com uma pureza divina e celestial. Tive, em muitas outras ocasiões, visões da mesma natureza, e todas tiveram o mesmo efeito sobre mim.” 6

O que Jonathan Edwards tinha a ensinar de tão relevante sobre a obra do Espírito Santo no conhecimento salvador de Deus? Entre tantas verdades, a seguinte: O ESPÍRITO SANTO É O ÚNICO AUTOR DA AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO SALVADOR DE DEUS.
Este é claramente o seu ponto de vista. Não há conhecimento salvador de Deus sem a obra do Espírito Santo. Diz Edwards citado por John Gerstner:
“Ele (o Espírito Santo) ‘ajuda-nos a receber a revelação na Palavra’. Homens ouvem sobre a amabilidade de Cristo, mas até receberem iluminação ‘eles não têm paladar para deliciar-se daquela doçura e não mais do que uma imagem de pedra poderia provar o mel se você o tivesse colocado em sua boca”.
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Gostaria, portanto, de apresentar as verdades que subjazem a proposição supra através do pensamento teológico de Jonathan Edwards:
1. A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO SALVADOR DE DEUS É SOBERANA E MONERGISTICA.

2. HÁ UMA ESPÉCIE DE CONHECIMENTO DE DEUS QUE NÃO É DE NATUREZA SALVADORA.

3. O CONHECIMENTO SALVADOR DE DEUS É A PERCEPÇÃO DAS SUAS EXCELÊNCIAS MEDIANTE A OBRA DO ESPÍRITO SANTO.

4. O HOMEM DEVE APLICAR TODA DILIGÊNCIA NA AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO SALVADOR DE DEUS EM UM ESPÍRITO DE COMPLETA DEPENDÊNCIA DA SUA GRAÇA SOBERANA.

A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO SALVADOR DE DEUS É SOBERANA E MONERGÍSTICA

O sistema teológico calvinista, tem a preocupação de tão somente apresentar o ponto de vista das Escrituras Sagradas, vindo assim a fazer afirmações que não tem compromisso com linha filosófica quer que seja e que muitas vezes são supra-racionais. Isto remete os que o seguem ao humilde exercício de acatar a verdade escriturística enquanto admitem sua incompreensibilidade.

Diríamos então que o calvinismo não é racionalista, ou seja, não tem apenas como verdadeiro o que é capaz de passar pelo crivo da razão. Embora, contudo, o calvinismo esteja para além da razão não esta aquém dela. Isto porque o calvinismo apesar de admitir paradoxos no seu sistema, não admite contradições. Seu conjunto doutrinário está de uma tal forma harmoniosamente disposto, que uma verdade leva sem contradição a outra.

Vemos esta harmonia de pensamento lógico na doutrina da ação soberana e monergística do Espírito Santo na obra de salvação do eleito. Ela vem a ser o que logicamente poderíamos esperar depois de termos chegado à conclusão que a salvação tem sua origem no decreto eterno de Deus e aquele que a experimenta é um ser que vem de um estado de completa incapacidade de sozinho se voltar para Deus.

O homem é apresentado na Bíblia como um ser que apesar do conhecimento de Deus que lhe chega através do senso da divindade 8implantado por Deus em seu ser no ato da sua criação e da revelação natural que o faz viver num mundo em que “para onde quer que olhe contempla a glória de Deus”, 9sufoca a verdade em seu coração. Aquilo que veio a ser chamado em teologia de influência noética do pecado, que vem a ser o papel corruptor dos julgamentos mentais levado a efeito pelo coração que prefere criar um ídolo ou até mesmo cair no vácuo pavoroso da sua inexistência a ter que encarar o Deus real, que é Santo e exige das suas criaturas morais submissão a Sua vontade. Conforme muito bem atestam R. C. Sproul, John Gerstner e Arthur Lindsley no excelente livro “Apologética Clássica”:
“Através de Romanos 1, Paulo insiste que as pessoas não desejam ter Deus em seus pensamentos. A mente por si mesma não é reprovada, mas os pecadores não desejam deixar a verdade penetrar no mais profundo do ser. Porque eles ‘tornaram-se vãos em seus raciocínios’, Deus (portanto) entregou-lhes a uma ‘mente reprovada’. Deus pune pecadores por deixar-lhes ter seu próprio caminho. Em outras palavras, a influência noética do pecado é a influência do coração pecaminoso no uso da mente, levando a mente a suprimir informação que a mente(como confiável instrumento de conhecimento) não pode ajudar a apreender”
10

O calvinismo parte da firme convicção de que o homem é totalmente depravado. Não tão mau quanto poderia ser, mas suficientemente mau para não conseguir fazer bem algum para a glória de Deus, como também voltar-se com o coração contrito para o Deus a quem tanto ofendeu.

Obviamente isto faz-nos partir para uma explicação acerca da conversão de alguns da nossa raça. Esta é a questão: alguns da nossa raça se converteram a Deus, como explicar sua conversão? A explicação não pode estar neles, mas somente nAquele que por Cristo foi comprado para o seu povo e que aplica a obra deste soberanamente no coração dos eleitos. É o Espírito Santo que faz com que a verdade oculta e sufocada pelo pecado venha a emergir e juntamente com a revelação do amor gracioso de Deus leve o pecador à entrega sem reservas de sua vida a Deus. Poderíamos concluir o ponto da seguinte forma: se esta salvação tem como base um decreto eterno e é levada a efeito pelo Espírito Santo no coração de seres que já nascem amantes do mal, temos de necessariamente afirmar que a ação do Espírito Santo é soberana, irresistível e sem participação humana.

Esta foi a firme convicção de Jonathan Edwards. Trata-se de um assunto da sua mais profunda estima, que recebeu tratamento em muitas dos seus sermões, mas possivelmente em nenhum outro como no sermão entitulado: “A Divina e Sobrenatural Luz, Imediatamente Transmitida à Alma pelo Espírito de Deus, Demonstrada Ser uma Doutrina Escriturística e Racional”.11
O sermão tem como base a confissão feita pelo apóstolo Pedro acerca da real identidade do Messias no evangelho de Mateus capítulo dezesseis versículo dezessete. Edwards destaca o fato na introdução do seu sermão que o apóstolo Pedro é tido pelo Senhor Jesus como um homem que fora objeto de um distinto amor da parte de Deus pelo fato de poder fazer a confissão: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Outra conclusão a que chega o Senhor Jesus ganha destaque no sermão: “... este conhecimento é acima de qualquer coisa que carne e sangue podem revelar”. Isto o leva a fazer uma diferenciação entre o conhecimento que procede do sangue e da carne, ou seja, conhecimento mediato e que não exige a ação da graça especial de Deus, e o conhecimento imediato, que não se faz valer de nenhuma causa natural intermediária:
“...homens mortais são capazes de transmitir o conhecimento das artes humanas e ciências, e habilidade em trabalhos temporais. Deus é o autor de tal conhecimento por aqueles meios: Carne e Sangue é usado por Deus como causa mediata ou secundária dele; ele transmite este conhecimento pelo poder e influência de meios naturais. Mas, este conhecimento espiritual, falado no texto, é o do qual Deus é o autor, e ninguém mais: ele revela-o, e carne e sangue não o revelam. Ele transmite este conhecimento imediatamente, não fazendo uso de nenhuma causa natural intermediária, como ele faz com o outro conhecimento”.

Edwards não deixa de destacar o fato que serve de advertência para todos os teólogos e estudantes de teologia. Os escribas e fariseus tinham vantagens intelectuais bem mais altas que o pescador Pedro, contudo, este e não aqueles em geral teve acesso ao conhecimento que o tornou um bem-aventurado.

Seu sermão tem três divisões: primeiro, mostra o que a luz divina é, segundo, como ela é dada imediatamente por Deus, e não obtida por meios naturais e terceiro, revela a verdade da doutrina. Como a natureza desta luz divina haverá de ser abordada mais adiante, gostaria de destacar o que relaciona-se exclusivamente ao que estamos tratando, a saber: a soberania e a livre ação do Espírito Santo na comunicação do conhecimento salvador de Deus.

Edwards enfatiza três fatos quanto ao modus operandi do Espírito Santo nesta obra: primeiro, Edwards quer deixar claro que ao falar sobre uma luz transmitida imediatamente não está com isto querendo dizer que as faculdades naturais não fazem uso dela:
“As faculdades naturais são o objeto desta luz: e elas são objetos de uma tal maneira, que elas não são meramente passivas, mas ativas nele; os atos e exercícios do entendimento humano estão envolvidos e feito usados por ela. Deus, ao enviar esta luz para dentro da alma, lida com o homem de acordo com a sua natureza, ou como um criatura racional; e faz uso das suas faculdades humanas. Mas ainda assim esta luz não é menos imediatamente de Deus por isto; embora as faculdades façam uso dela, elas fazem como objeto e não como sujeito e não como causa; e que a ação das faculdades humanas nela, não são a causa, mas estão tanto implicadas na coisa mesma (na luz que é transmitida) ou é conseqüência dela. Como o uso que nós fazemos com os nossos olhos em observar vários objetos, quando o sol nasce, não é a causa da luz que descobre aqueles objetos para nós”.

Em segundo lugar, Edwards destaca o fato que esta luz não atua sem se fazer valer de meios externos. Ela não age como na inspiração, onde verdades novas são transmitidas, mas via a iluminação do que já foi registrado nas Escrituras mediante inspiração. Ela não é dada sem a Palavra:
“O evangelho é usado nesta obra: esta luz é a luz do glorioso evangelho de Cristo”.

E em terceiro lugar, Edwards conclui dizendo que a Palavra de Deus não é a causa própria deste efeito:
“Ela (a Palavra de Deus) transmite para nossas mentes estas e aquelas doutrinas; ela é a causa da noção delas em nossa mente, mas não a causa do senso da divina excelência delas em nosso coração. De fato a pessoa não pode ter luz espiritual sem a Palavra. Mas, isto não indica, que a Palavra propriamente causa aquela luz. A mente não pode ver a excelência de qualquer doutrina, a não ser que a doutrina esteja primeiramente na mente; mas a visão da excelência da doutrina se origina imediatamente do Espírito de Deus”.

Após a apresentação da forma do Espírito atuar na obra de transmissão da luz divina, Edwards sublinha o caráter soberano e eletivo da mesma, chamando-a de operação arbitrária e e Dom de Deus,
“que concede este conhecimento a quem ele quer, e distinguindo aqueles que o possuem, como tendo a menor vantagem natural ou meios para a aquisição deste conhecimento, tal como crianças, enquanto é negado aos sábios e prudentes”.

Aqui ficamos diante de algo assombroso: o conhecimento de Deus resulta de uma ação soberana e imediata do Espírito Santo. A que isto deve nos conduzir? Primeiro a gratidão, pois todo aquele que conhece a Deus de forma salvadora goza de um privilégio que não resulta da quantidade de neurônio ou acumulo de teologia, mas de uma pura graça e amor. Em segundo lugar, deveríamos rever nossas estratégias evangelísticas. Estas não devem ser tolas, deixando de levar em consideração que Deus na sua sabedoria adapta aos seus fins soberanos os meios conducentes à sua realização. Não há nada em teologia que justifique um pregação insensível as necessidades intelectuais e barreiras culturais dos ouvintes. Como também nada que justifique uma mensagem que contrarie as leis do funcionamento da alma humana. A verdade tem que ser comunicada, pois como vimos, sem a Palavra não há nada para o Espírito Santo iluminar.

Mas, sendo o conhecimento salvador obra soberana e monergística(mono=um, ergo=trabalho, ou seja trabalho de uma só pessoa) do Espírito Santo deveríamos fugir de toda manipulação psicológica no púlpito, auto-suficiência apologética e diluição do conteúdo do evangelho na perspectiva de atrair ouvinte. Os eleitos pela ação do Espírito Santo haverão de decodificar a mensagem. Ou, usando as palavras de Jonathan Edwards, ver a excelência de Cristo.
Em terceiro e último lugar, o que vimos deveria nos levar a um sério e profundo auto-exame. Conhecemos Deus segundo a maneira do Espírito Santo o revelar? Esta pergunta nos remete para os próximos pontos.

HÁ UMA ESPÉCIE DE CONHECIMENTO DE DEUS QUE NÃO É DE NATUREZA SALVADORA

Há uma diferença infinita entre conhecer teologia e conhecer a Deus salvadoramente. É possível conhecer a verdade e não conhecer a Deus. O fariseus conheciam a verdade, porém não conheciam a Deus. Ninguém pode conhecer a Deus sem antes conhecer a verdade, contudo, é possível alguém conhecer a verdade e não conhecer a Deus. Este conhecimento acerca do qual, conforme já vimos, Jonathan Edwards fala é do coração. Há um conhecimento puramente intelectual, porém há um conhecimento do coração. Sem o primeiro não há o segundo, mas nem todos os que tem o primeiro tem o segundo. O conhecimento intelectual pode ser alcançado por qualquer um, já o do coração só mediante revelação:
“Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus”. Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos”. 12

O crente não apenas conhece a Deus, mas reconhece a Deus. Trata-se de alguém que recebeu um sentido novo. Uma capacidade de não apenas saber que Deus existe, mas de se regozijar com isto, de não apenas dizer que há um criador, mas de adorá-lo.
Um exemplo notável do que estou falando encontramos no contraste entre a filosofia grega e a revelação Bíblica. De um lado os gregos esgotando suas energias mentais para conhecerem algo sobre a divindade. E a quantas verdades chegaram pela ação da graça comum. Mas, não é fato que enquanto estes se afadigavam vindo a fazer afirmações ora verdadeiras ora absurdas, aqueles recebiam sem esforço, pela graça, verdades que estão para além do alcance do melhor cérebro? Não é fato que aquilo sobre o que Platão pensava Moisés via? Não é evidente para todos que há um frescor, uma beleza, uma simetria e originalidade no conceito bíblico de Deus que atesta sua inspiração divina?

Outro contraste notável entre uma espécie de conhecimento e outro é o paralelo que Tiago traça na sua epístola no capítulo dois entre a fé dos demônios e a fé do patriarca Abraão. Tiago compara a fé dos não regenerados a fé dos demônios. Em que consiste a fé dos demônios? Consiste numa fé que vem acompanhada de teologia, conhecimento de passagens bíblicas, tremor, oração, mas ao mesmo tempo ausente do essencial. Segundo Tiago há um ponto em comum entre os demônios e o patriarca Abraão: ambos tem fé. Mas, porque ir para o céu é ir para o seio de Abraão e para os demônios estão reservadas cadeias eternas? Tiago explica dizendo que a diferença entre ambos é que enquanto os demônios somente crêem, Abraão amava. Ele era chamado de “amigo de Deus” e alguém que por amor entregou seu filho Isaque: “Não foi por obras que o nosso pai Abraão foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?” Daí aprendemos que não há conhecimento salvador de Deus que não seja relacional. O regenerado é amigo de Deus. Percebemos que o real conhecimento de Deus desemboca na fixação dos afetos em Deus e tal só é consubstanciado quando o bem mais precioso da vida é a Ele entregue. Ou melhor, o bem mais precioso da vida é entregue porque deixou de ser o bem mais precioso. Em suma: os demônios crêem, os crentes amam.

Edwards afadigou-se um bocado no trabalho de desmascarar o falso conhecimento de Deus. Em parte por força das dolorosas experiências ministeriais que vieram a certificá-lo que muitos daqueles que pareceram ser salvos em Northampton demonstraram haver passado por conversões temporárias. Como lembra Iain Murray:
“Durante o Grande Despertamento, quando Edwards estava examinando mais de perto a natureza da verdadeira conversão e distinguindo-a de uma mera temporária mudança naqueles que se tornaram convictos ou despertados, ele deve ter visto como a pronta admissão daqueles na condição passada para a ampla membrezia da igreja foi passível de desencaminhá-los”.13

É intrigante que a mesma igreja que passara por dois avivamentos no ministério de Jonathan Edwards veio a demiti-lo do cargo de pastor numa votação em que a ampla maioria votou a favor da sua saída. No seu sermão de despedida de Northamptom Edwards reconhece que apesar da dedicação à sua amada igreja e dos extraordinários privilégios espirituais desta havia entre seus membros pessoas que não expressavam a beleza da santidade cristã:
“Um povo contencioso será um povo miserável. As contendas que têm havido entre vocês, desde que pela primeira vez me tornei seu pastor, tem sido uma das maiores cargas com que eu tenho labutado sob o curso do meu ministério”.
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Mas, os motivos acima não foram os únicos. Edwards no seu tempo já podia observar o fenômeno muito comum no Brasil de em meio a obra do Espírito Santo haver muita experiência espiritual espúria. Isto o deixava alarmado. Veja o que Edwards veio a declarar:
“É uma dura coisa ser um amigo sinceramente zeloso do que tem sido bom e glorioso nos últimos extraordinários aparecimentos, e se regozijar muito neles, e ao mesmo tempo ver o mal e tendência perniciosa do que tem sido maligno, e seriamente se opor aquilo...é uma coisa nova, que muita falsa religião devesse prevalecer, no tempo de grande reavivamento da verdadeira religião; e que em tal tempo multidões de hipócritas devessem florescer entre verdadeiros santos”.
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Edwards, talvez mais do que ninguém na história do cristianismo ajudou a igreja a separar o joio do trigo nas experiências espirituais. Em suas obras o vemos lidando com todas as esferas da vida espiritual e em todas elas aprendemos com Edwards que para cada obra genuína do Espírito Santo há uma falsificação de Satanás. Há a verdadeira certeza de salvação, há a falsa. Há a verdadeira fé, há a espúria. Há o verdadeiro culto a Deus, há o falso e assim por diante. Para nossos propósitos, porém, Edwards com muita clareza traçou uma clara distinção entre o conhecimento salvador de Deus e o mero conhecimento intelectual. E mais uma vez temos que nos reportar ao seu excelente sermão sobre o evangelho de Mateus capítulo dezesseis versículo dezessete:
“Há uma diferença entre ter uma opinião, que Deus é santo e gracioso, e ter um senso da amabilidade e beleza daquela santidade e graça. Há uma diferença entre ter um julgamento racional de que o mel é doce, e ter um senso da sua doçura. Um homem pode ter o primeiro, ou seja, não saber como é o gosto do mel; mas um homem não pode ter o último a não ser que ele tenha uma idéia do gosto do mel na sua mente. Também, há uma diferença entre crer que uma pessoa é bela, e ter um senso da sua beleza. O primeiro pode ser obtido por ouvir dizer, mas o último apenas por ver a aparência. Há uma grande diferença entre o mero julgamento racional especulativo de qualquer coisa ser excelente, e ter um senso da sua doçura e beleza. O primeiro descansa apenas na cabeça, especulação é o seu único interesse nele; mas, o coração está interessado no último. Quando o coração está cônscio da beleza e amabilidade de uma coisa, ele necessariamente sente prazer na apreensão. Ele é dado a entender no ser da pessoa de coração consciente da amabilidade de uma coisa, que a idéia dela é doce e prazerosa para a alma dela; o que é uma coisa bem diferente de ter uma opinião racional de que ela é excelente. Surge deste senso da excelência divina das coisas contidas na Palavra de Deus, uma convicção da verdade e realidade delas... quando um pessoa descobriu a divina excelência das doutrinas cristãs, isto destrói a inimizade, remove preconceitos, e santifica a razão, e leva-a a estar aberta para a força do argumento da sua verdade”.
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Estamos diante de algo que deveria levar todos os que estão envolvidos com religião a fazer uma auto-exame espiritual. Não estão perdidos apenas ateus a agnósticos, mas milhares que crêem na existência objetiva de Deus. E não apenas isto, pessoas que conhecem teologia, mas que por não terem sentido a beleza da verdade em suas vidas não experimentaram seu poder que tanto convence a razão quanto purifica o coração. Esta é a apologética final: depois da mente ter tido acesso as verdades da Palavra de Deus, o coração ser poderosamente desacorrentado das influências do mundo, da carne e do Diabo para sentir a doçura, amabilidade e beleza da verdade. E a razão sendo levada a considerar a veracidade da fé cristã depois de passar pelo estágio estético da relação com a verdade de Deus. Só adoramos a Deus em Espírito e em verdade quando os argumentos da beleza já seduziram nosso coração.

O CONHECIMENTO SALVADOR DE DEUS É A PERCEPÇÃO DE SUAS EXCELÊNCIAS MEDIANTE A OBRA DO ESPÍRITO SANTO


O que o regenerado vem a contemplar em Deus de tão excelente que o convence intelectualmente, produz afeições santas no seu coração e conduz à prática da verdade? Esta é uma pergunta crucial cuja resposta pode servir de material sobre o qual o Espírito Santo lançará luz para a aquisição do conhecimento salvador de Deus.
Somos um geração que perdeu o encanto por Deus. Como se não bastasse toda nossa propensão para o mal, vivemos dias em que Deus foi parar no banco dos réus. Não se vê mais a iniqüidade humana como causadora de toda espécie de infortúnio pelo qual o homem tem passado. O homem é visto como um ser que não é responsável por suas ações e que vive num mundo onde padrões morais de comportamento são relativos. Ora, se o comportamento humano pode ser justificado pela a ação de forças químicas, inconscientes e sociais num contexto sem padrões morais absolutos, quem pode condená-lo? E como explicar ser tão inocente sofrer tanto?

Muito poderíamos falar sobre como lidar com estes problemas e resgatarmos o senso da beleza de Deus. Deixe-me apresentar o que julgo necessário para que voltemos a amar a Deus. A primeira coisa é saber que chegamos neste fundo de poço certamente por causa do conceito de homem dos dias atuais, a saber, um ser que não nasce definido, mas que sai em busca da sua definição. Não há nada que diga de antemão o que este deve ser. Como por exemplo, que ele nasceu para conhecer a Deus e gozá-lo para sempre. Ele simplesmente nasce e sai em busca da sua definição. Se quiser servir ao inferno quem poderá dizer que deve ser diferente? Se quiser se definir como bissexual quem poderá constrangê-lo? Onde está escrito (conforme costumam dizer) que isto é pecado? Um ser que não nasce definido não tem porque pagar pelas decisões que escolheu tomar. Ainda mais se além de viver num universo sem lei vive num universo sem liberdade. Só existe uma saída, resgatarmos nossa antropologia bíblica que nos ensina que o homem é um ser racional, responsável, auto-determinante (faz o que quer fazer), que nasceu para glorificar a Deus e que quando não harmoniza sua vida ao propósito divino atrai para si o justo juízo do Criador.

O próximo passo é um retorno às pregações que falam sobre a ira de Deus. Paradoxalmente quando a igreja parou de pregar sobre a ira de Deus nossa raça tornou-se mais passível ainda de menosprezá-lo. Isto pelo simples fato de vivermos num mundo que exige uma resposta para a tragédia humana. O homem não tem descanso. Vive esperando morrer e morre esperando viver. O Deus de bondade dos nossos púlpitos não prepara nossa raça para lidar com a realidade do sofrimento humano. Precisamos urgentemente pregar sobre um Deus que na sua bondade trás juízo sobre tudo aquilo que não é bom. Há sinais disso por todos os lados e a pregação que não enfatiza o desprazer divino com a vida humana que se manifesta na forma de juízo não ajuda nossa raça a interpretar os fatos.

Não basta, contudo, uma boa teodicéia (defesa dos procedimentos de Deus na vida), temos que mergulhar no texto das Escrituras a fim de conhecermos com nossas mentes o que a Bíblia revela sobre as perfeições divinas na esperança que o Espírito Santo nos ajude a experimentá-las no coração.
Edwards sempre ensinou que a beleza de Deus é sobretudo uma beleza de natureza moral. Que embora os seus atributos naturais tenham seu valor ao qualificarem seus atributos morais (Ele é bom e infinito, logo é infinitamente bom), para Edwards adoramos a Deus não por causa daqueles e sim por causa destes. Não adoraríamos um ser todo-poderoso, mas que usasse seu poder para o mal, nem cultuaríamos um ser onisciente que aplicasse seu saber para a prática do que é perverso. Sendo assim, adoramos a Deus acima de tudo por Sua santidade. Deixemos Edwards falar:
“...a espécie de excelência da natureza das coisas divinas, que é a primeira base objetiva de todas afeições santas, é a excelência moral delas ou sua santidade. Pessoas santas, no exercício de afeições santas, amam as coisas divinas primariamente por sua santidade. Elas amam a Deus, em primeiro lugar, pela beleza da Sua santidade ou perfeição moral, como sendo supremamente amável por Ele próprio. Não que os santos, no exercício de afeições graciosas, amem a Deus apenas por Sua santidade; todos os atributos de Deus são amáveis e gloriosos aos seus olhos; eles se deleitam em toda divina perfeição; a contemplação da divina grandeza, poder e conhecimento, e a terrível majestade de Deus, é prazerosa para eles. Mas o amor deles por Deus pela Sua santidade é o que é mais fundamental e essencial no seu amor...a glória da sabedoria de Deus é que ela é uma sabedoria santa, e não uma perversa argúcia e ardilosidade. Isto faz sua majestade amável, e não simplesmente apavorante e horrível, que ela é uma majestade santa. A glória da imutabilidade de Deus é que ela é uma imutabilidade santa, e não uma obstinação inflexível na perversidade”.17

Aqui vemos a essência do culto a Deus bem como do restante da vida cristã. Tudo nasce desta percepção. Daqui saem as boas obras que passam a ser o alvo daqueles que querem participar da beleza divina. Uma pergunta final, porém, precisa ser respondida: o que é necessário para que um homem passe por tão gloriosa experiência?

O HOMEM DEVE APLICAR TODA A DILIGÊNCIA PARA A AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO SALVADOR DE DEUS EM UM ESPÍRITO DE COMPLETA DEPENDÊNCIA DA SUA GRAÇA SOBERANA

Parece que aqui ficamos diante de um labirinto teológico. Se a obra salvadora do Espírito Santo é soberana, monergística, irresistível e só eficaz na vida dos eleitos o que deve fazer aquele que chegou a conclusão de que conhece teologia e não conhece a Deus? A este cabe esperar que a fé despenque sobre sua cabeça de uma hora para outra? Ou viver a perscrutar o mistério do decreto divino a fim de saber se é predestinado, caindo assim numa inércia espiritual que o faz crer que o que há de ser será?

Teologia pode ser algo devastador para a vida de um homem. Quem dela mal se utiliza pode vir a destruir-se a si mesmo. E tal ocorre não apenas quando ela não é estudada de forma cúltica, ou quando heresias são formuladas, mas pode acontecer algo mais sutil e que passa despercebido pelos melhores crentes. É o erro de pegar o que até mesmo é verdadeiro e levá-lo a aplicações práticas indevidas. Parece que muitos erram justamente na hora da aplicação da verdade teológica. Foram perfeitos na coleta de dados, mas péssimos na sua utilização. No evangelho de Mateus capítulo quatro no episódio da tentação do Senhor Jesus percebemos que este é um dos ardis de Satanás.

Uma conclusão falsa a que muitos chegaram é a de que já que Deus está no controle de todas as coisas e em última análise tudo ocorre de acordo com sua soberana vontade podemos deixar a vida seguir o seu curso porque o futuro já está programado. Deus, porém, na sua soberania adapta os meios aos fins de maneira que quando Ele decreta riqueza decreta diligência, quando decreta conhecimento decreta sede de saber, quando decreta salvação decreta fé e assim por diante. Isto nos leva à conclusão de que nesta vida não podemos ser negligentes com os meios que em geral são conducentes a determinados fins. Se queremos que certos alvos sejam alcançados devemos diligentemente utilizar os meios necessários. É o livro de Provérbios no capítulo dez versículo quatro que diz: “O que trabalha com a mão remissa empobrece, mas a mão dos diligentes vem a enriquecer-se”.

Isto levou Jonathan Edwards a fazer uma afirmação muito curiosa:
“Sabedoria e diligência são os caminhos para aqueles que são vis e desprezíveis alcançarem riquezas e o céu”.18

O que acabamos de ver é uma das principais convicções de Edwards quanto a vida como um todo e em especial quanto a vida espiritual do homem. Podemos dizer que há uma teologia da prosperidade em Edwards. Embora cresse que o alvo do crente nunca deve ser enriquecer, ele via a prosperidade como conseqüência natural de um viver em santidade. Para Edwards a aplicação de certos princípios cristãos à vida tendem levar um homem à riqueza. A declaração acima ressalta este fato. O interessante é observar que aquilo que ele via como uma espécie de lei da vida aplicava também ao conhecimento de Deus e a salvação. Edwards desconhecia qualquer espécie de conselho para o crente deixar Deus tão somente “operar” e por temer qualquer risco pelagiano “deixar a graça agir”. Não! Para Jonathan Edwards trabalho duro é fundamental para prosperidade material e espiritual. Isto fica evidente quando analisamos tudo aquilo que ele ensinou sobre a doutrina do seeking, o homem buscando a salvação. Vemos que não há espaço nesta procura nem para a auto-suficiência e nem para a preguiça.

John Gerstner diz o seguinte sobre a doutrina do seeking:
“A doutrina do buscando é a resposta de Edwards para a questão, ‘Como eu mantenho a total depravação do homem e a absoluta soberania de Deus sem tornar o pecador inativo, senão desesperado?’... se você estivesse no caminho da obtenção de um princípio santo, vivendo de uma maneira a externar as mesmas ações da melhor maneira possível que seriam ocasionadas por tal princípio se você o possuísse, é a resposta de Edwards. O pecador não pode erradicar suas cobiças carnais, mas ele pode fazer alguma coisa no caminho de reprimi-las”.19

Em Edwards tanto o risco pelagiano quanto o hiper-calvinista são evitados por um ponto de vista que ressalta tanto a responsabilidade humana quanto a soberania divina. No apelo comovente feito a old sinners (pecadores velhos), Edwards destaca ambas as verdades:
“Você que tem estado há tanto tempo no deserto, lutando com várias tentações, trabalhando sob desencorajamentos, pronto para desistir do caso, e tem sido freqüentemente tentado ao desespero, agora, contemple a porta que Deus abriu para você! Não ceda aos desencorajamentos agora; este não é um tempo para isto. Não gaste tempo pensando, que você já fez o que podia, e que você não é eleito, e cedendo a outras perplexas, enfraquecedoras,
desencorajadoras tentações. Não gaste esta preciosa oportunidade desta maneira. Você não tem tempo a perder com coisas deste tipo. Deus te chama agora para fazer outra coisa. Invista este tempo em buscar e lutar por salvação e não naquilo que tende a impedir isto. Agora não é tempo de você ficar conversando com o Diabo; mas volte sua atenção para Deus, e aplique você mesmo naquilo que Deus agora em alta voz te chama para fazer”.20

Jonathan Edwards desconhecia o conceito de fé “salto no escuro”. Claramente o vemos tanto defendendo a racionalidade do cristianismo quanto a certeza dada pelo Espírito Santo da veracidade do evangelho. Por isto se opunha tanto à idéia de “Cristãos vivendo pela fé, não pela vista”, ou “dando glória a Deus, por confiar nele na escuridão”, “vivendo sobre Cristo, e não sobre experiência; não fazendo do seu bom estado o fundamento da fé”; que segundo Edwards são “excelentes e importantes doutrinas de fato, entendidas de modo direito, mas corruptas e destrutivas como muitos as entendem”. Edwards prossegue dizendo:
“Mas esta doutrina como é entendida por muitos, é que os cristãos devem acreditar em Cristo, sem visão espiritual ou luz, e apesar deles estarem num estado de escuridão e morte, e pelo presente não ter experiência ou descobertas espirituais. E é verdadeira a obrigação daqueles que estão nas trevas, sair da escuridão e vir para a luz e crer...as Escrituras apresentam a fé como aquilo pelo qual homens são trazidos para um bom estado; e portanto, ela não pode ser a mesma coisa como eles acreditarem que eles estão em bom estado. Supor que fé consiste nas pessoas acreditarem que elas estão em bom estado, é em efeito a mesma coisa que supor que a fé consiste na crença de uma pessoa de que ela tem fé, ou em crer que ela crê”.
21

Ficamos a pensar em como Edwards encararia o liberalismo teológico que remete seus seguidores a uma escuridão pavorosa enquanto incute neles a idéia de que apesar destes não serem santos, não amarem a Cristo com todo ser, na perceberem a excelência da verdade bíblica tudo o que lhes cabe fazer é “aceitar a aceitação”. Ou seja, que são aceitos como filhos de Deus independentemente de terem um tipo de fé inferior a dos demônios que crêem e tremem. Certamente se um destes procurasse Jonathan Edwards para um aconselhamento este recomendaria o seeking, a busca com todo o ser pela entrada no reino de Deus.

CONCLUSÃO
A teologia de Edwards tem muito a dizer aos mais diferentes seguimentos da igreja. Aos arminianos, ela diz que não resta saída para o homem senão aguardar na graça soberana, pois o homem é apresentado na Bíblia como um cego que precisa de visão, e embora um cego possa fazer muita coisa, como adquirir conhecimento, contudo não é o conhecimento que o fará ter uma idéia do fulgor do sol, mas a aquisição de um sentido novo que não está em seu poder criar. É Cristo quem decide se vai entrar em Jericó ou não.

Para os pentecostais, carismáticos e neo-pentecostais Edwards tem a lhes dizer que a vida cristã é mais do que provar dos dons extraordinários, mas receber uma percepção da beleza, amabilidade e majestade de Deus que torna nossa vida testemunho mais poderoso da existência de Deus e veracidade do cristianismo do que a ressurreição de um morto atravéz da nossa oração.
Para os liberais Edwards tem a lhes ensinar que a fé cristã não se trata de um consolo para nossa incapacidade de olhar para o alto com lágrimas de adoração, mas o que justamente pela graça divina nos torna amantes de um Deus cuja certeza da sua realidade pode ser alcançada por aqueles que soltos das amarras iluministas se deixaram iluminar por Aquele que não haveria em questões de vida ou morte nos deixar vagar com uma fé vacilante.

E para meus companheiros calvinistas fica a advertência de que uma coisa é conhecer teologia outra coisa é conhecer a Deus. Ninguém jamais foi salvo pelo simples fato de ter uma boa teologia. Conhecimento teológico que não vem acompanhado de Religious Affections é conhecimento teológico dos demônios.

Na teologia do conhecimento de Deus em Jonathan Edwards vemos Deus como excelente e o homem como é em razão da queda, incapaz de perceber esta excelência. Deus pode até ser visto pelo não regenerado como alguém em que se deve crer, como a única explicação para a existência de todas as coisas, mas é até aí que o homem natural pode ir. Daí para ver este mesmo Deus como amável e digno da fixação dos afetos do homem em Seu ser, só um milagre da graça soberana. Só a obra do Espírito Santo.

Cabe ao homem buscar. Orando, evitando o pecado, dependendo da graça e tendo contato com a verdade bíblica, pois o Espírito Santo não haverá de tornar Deus amável para um homem mediante revelação, mas atravéz da Sua obra de iluminação. Quanto mais um homem conhece as Escrituras mais amplia-se em sua vida a probabilidade de conhecer a Deus como excelente. Como proclamou o apóstolo Paulo:
“Porque Deus que disse: De trevas resplandecerá luz, Ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo”.22

[1] J. I. Packer, O Conhecimento de Deus, (Editora Mundo Cristão, 1987), P. 11
2 Jonathan Edwards on Revival, (Banner of Truth, 1994), Pgs. 86-87
3 Iain Murray, Jonathan Edwards: A New Biography, (Banner of Truth, 1992), p. 17
4 John Gerstner, The Rational Biblical Theology of Jonathan Edwards-Vol. I, (Berea Publications, 1991), p. 79
5 Martyn Lloyd-Jones, Os Puritanos, (Pes, 1993), Pgs. 366-367.
6 Martyn Lloyd-Jones, Avivamento, (Pes, 1992), pgs. 226-227
7 John Gerstner, The Rational Biblical Theology of Jonathan Edwards-Vol. I, (Berea Publications, 1991), pgs. 186-187.
8 João Calvino, As Institutas, (Casa Editora Presbiteriana, 1985), P. 59
9 João Calvino, As Institutas, (Casa Editora Presbiteriana, 1985), P. 67
10 R. C. Sproul, John Gerstner & Atrthur Lindsley, Classical Apologetics (Academies Books, 1995), P. 244
11The Works of Jonathan Edwards (Banner of Truth, 1997), P.12-17
12 Mt 16:17
13 Iain Murray, Jonathan Edwards: A New Biography, (Banner of Truth, 1992), p. 274
14 Iain Murray, Jonathan Edwards: A New Biography, (Banner of Truth, 1992), p. 328.
15 Jonathan Edwards, The Religious Affections, (Banner of Truth, 1997), p. 16
16 John Gerstner, The Rational Biblical Theology of Jonathan Edwards-Vol. I, (Berea Publications, 1991), pgs. 202-203
17 Jonathan Edwards, The Religious Affections, (Banner of Truth, 1997), p. 182-183
18 John Gerstner, The Rational Biblical Theology of Jonathan Edwards, (BEREA PUBLICATIONS, 1993), P. 71.
19 John Gerstner, The Rational Biblical Theology of Jonathan Edwards-III, (BEREA PUBLICATIONS, 1993), P. 50
20 John Gerstner, The Rational Biblical Theology of Jonathan Edwards-III, (BEREA PUBLICATIONS, 1993), P. 133
21 Jonathan Edwards, The Religious Affections, (Banner of Truth, 1997), p. 104, 106
22 I Co 4:6

2 comentários:

Jossely disse...

Graças a Deus por sua vida, Pastor. Obrigada por disponibilizar textos tão ricos e que nos leva a nos encantar com a beleza de um Deus tão justo e santo. Que o nosso prazer seja sempre o de obedecê-Lo por amor e nos relacionarmos com este Ser tão amoroso.

Unknown disse...

MEU ILUSTRE E ADMIRÁVEL PR. ANTONIO CARLOS COSTA, É COM UMA ALEGRIA ENORME EM MEU CORAÇÃO QUE VENHO VISITAR SEU BLOG, DE FORMA QUE AO ENCONTAR TANTAS RIQUESAS COMO AS QUE AQUI ENCONTREI, ME SINTO TOTALMENTE CERCADO POR UMA FONTE DE CONHECIMENTO AXAUSTIVO E DE TREMENDA PERTINÊNCIA.
É COM O CORAÇÃO EM PLENA FORMA DE ALEGRIA, E COM A ADMIRAÇÃO QUE TENHO PELA VOSSA PESSOA, QUE A CADA DIA ME PRENDO AO INTERESSE DE SABER MAIS DA PALVRA DA VERDADE E DOS VERDADEIROS HOMENS DE DEUS QUE BRILHAM (ASSIM COMO VOSSA PESSOA)E BRILHARAM NA HISTORIA DO CRISTIANISMO.
UM HOMEM CUJA A PREGAÇÃO DO EVANGELHO A LUZ DA REVELAÇÃO ESPECIAL, TEM COMO FORTALEZA INDESTRUTÍVEL, O AMOR, A FIDELIDADE, A LUZ E A GRAÇA QUE TEM EM SEU CORAÇÃO AO TRANSMITIR A PODEROSA PALAVRA DE DEUS.
DEVO-LHE O MEU MUITO OBRIGADO, POR FAZER COM QUE MINHA VIDA SEJA MAIS ABENÇOADA COM SEUS SERMÕES E COMENTÁRIOS DAS VÁRIAS ESTRELAS DO CRISTIANISMO DESDE A REFORMA.
OBS: ESTE QUE VOS FALA E QUE POSTA ESSE COMENTÁRIO, É O MESMO QUE SEMPRE ESTEVE PRESENTE EM SUAS PREGAÇÕES EM CAMPINA GRANDE, NO ENCONTRO PARA A CONSCIÊNCIA CRISTÃ.
SOU MESSIAS MOURA DOS SANTOS.

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